Sexta-feira. O dia estava quase terminando quando percebi que semana que vem já seria Carnaval. A consciência dos dias de folga relaxou o meu corpo e a minha mente, como se o espaço de tempo entre o sábado e a quarta-feira fosse infinito. O planejamento do primeiro dia foi feito com uma única palavra, faxina, que executei com sucesso.
No domingo de manhã, fui ao mercado para escolher um limpador perfumado para a casa porque as aventuras do sábado tinham acabado com o único restante. As opções disponíveis daquele menor, mais concentrado, não eram muitas porque o mercado mais próximo não é pequeno a ponto de poder ser chamado de mercadinho, mas claramente se posiciona como um estabelecimento que não quer se comprometer com variedade. Afinal, "se não tem tu, vai tu mesmo" é uma conclusão possível para qualquer consumidor apressado e enquanto houver tempo sempre existirão os apressados.
Ainda assim consegui me divertir escolhendo. As fragrâncias disponíveis eram bambu, romã, citronela, alecrim e patchouli com tangerina. Já conhecia as três primeiras e abri os dois últimos para conhecer o cheiro. As duas experiências sensoriais imediatas foram muito agradáveis, mas também muito diferentes. Enquanto o limpador de alecrim tinha um cheiro sóbrio, fechado, foliar, o de patchouli com tangerina se mostrava mais refrescante, aberto e doce, além de obviamente cítrico. Colocando esses adjetivos na mesa, o de alecrim seria a minha escolha, mas eu tinha mais a considerar.
Em uma escala de extremamente foliar para extremamente doce, a ordem dos aromas seria: alecrim (extremamente foliar), bambu (bastante foliar), citronela (razoavelmente doce), patchouli com tangerina (bastante doce) e romã (extremamente doce). Nem sempre prefiro os aromas foliares, inclusive tendo a não preferi-los porque, mesmo me parecendo mais sofisticados, são cheiros menos persistentes.
Existe uma ligação forte entre olfato e memória, como empiricamente se sabe, e esse momento na prateleira me transportou para a lembrança de um incenso de manga rosa que combinava perfeitamente com tardes quentes, e de um incenso de bambu que combinava muito bem com dias chuvosos ou nublados. O de manga rosa exalava o exato cheiro de manga, enquanto o de bambu era sóbrio, fechado e foliar... exatamente como o limpador de alecrim.
Com essa lembrança frutal tão intensa e a certeza de que mais uma onda de calor estava prestes a chegar, não tive dúvidas e coloquei o de patchouli com tangerina na cestinha. Empolgado, passei um novo pano na casa no mesmo dia. As experiências olfativas nos ensinam, primeiro, que o cheiro da maioria dos produtos, de perfumes a limpadores, tende a mudar com o passar das horas e, segundo, que os aromas cítricos são os que somem mais rápido. Esses ensinamentos foram confirmados com esse limpador, pois a tangerina rapidamente foi embora e só ficou o patchouli.
Sobre o carnaval, ainda restam mais dois dias de folga. Talvez eu volte a publicar amanhã ou depois de amanhã, antes que A Marcha da Quarta-Feira de Cinzas se torne a trilha sonora dos meus pensamentos.

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